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Data: quarta-feira, 24 de setembro de 2025
Categoria: Sustentabilidade e Meio Ambiente
Autor: Newsun Energy Group
Nosso Inconformismo Energético: Por que a conta não fecha na matriz "limpa" do Brasil?
Sempre que surge uma conversa sobre energia no cenário mundial, o Brasil estufa o peito.
Apresentamos nossos números com orgulho: uma das matrizes elétricas mais limpas do planeta, dominada por hidrelétricas, com uma crescente e promissora participação de fontes eólicas e solares. No papel, somos o exemplo, a vanguarda verde que outras nações, ainda atoladas no carvão e no gás, deveriam seguir. E cada um de nós, como cidadão, consumidor e “pagador de contas”, deveria sentir um imenso orgulho disso. E, em parte, sentimos. Esse orgulho, no entanto, é frequentemente ofuscado por uma sensação persistente de inconformismo, uma coceira na nuca que se intensifica a cada boleto de luz que chega...
Nosso inconformismo, o mesmo de milhões de brasileiros, não nasce da falta de potencial. Pelo contrário. Ele nasce justamente da dissonância entre o potencial monumental que temos e a realidade frágil, cara e, por vezes, ilógica que experimentamos no dia a dia. É a frustração de sentar sobre uma mina de ouro energética e, ainda assim, viver com o medo constante do apagão e com o peso de uma das tarifas de energia mais altas do mundo. A pergunta que não quer calar é: se somos tão abençoados em recursos, por que a conta não fecha? Por que pagamos tanto por algo que, em tese, deveria ser nosso grande diferencial competitivo e um alívio para o bolso do cidadão?
A NewSun se propôs a racionalizar esse sentimento, dar voz a esse consumidor que, sem ser um especialista da área, olha para a complexa engrenagem energética do país e se sente, no mínimo, ludibriado.
O Paradoxo da Hidroeletricidade: A Bênção que Virou Nossa Muleta
A espinha dorsal da nossa matriz elétrica é, sem dúvida, a água. Nossos rios colossais foram represados para construir gigantes de concreto que, por décadas, nos forneceram energia abundante e relativamente barata. Foi uma escolha estratégica que moldou o desenvolvimento do país. O problema é que nos apaixonamos demais por essa solução. Tornamo-nos tão dependentes das hidrelétricas que transformamos uma vantagem estratégica em nosso calcanhar de Aquiles.
Para o consumidor, essa dependência se manifesta de forma cruel e direta através das "bandeiras tarifárias". Aprendemos a temer a falta de chuva não apenas pela agricultura ou pelo abastecimento de água, mas porque sabemos que um nível baixo nos reservatórios significa uma bandeira amarela ou, pior, vermelha na conta de luz. É uma lógica perversa: o clima, um fator sobre o qual não temos controle, dita o preço de um serviço essencial.
Quando São Pedro não colabora, o governo aciona o "plano B": as usinas termelétricas. E é aqui que o castelo de cartas da nossa matriz "limpa" começa a desmoronar. Para compensar a falta de água, queimamos gás, óleo e até carvão. Ou seja, em momentos de crise, nossa matriz se torna mais suja, mais cara e mais poluente. E quem paga por essa decisão emergencial? Nós, os consumidores. A bandeira tarifária nada mais é do que o repasse direto do custo de acionar essas usinas de "seguro", que são terrivelmente ineficientes e caras de operar.
E nosso inconformismo aqui é duplo. Primeiro, com a falta de planejamento. Sabendo da nossa vulnerabilidade climática, que se agrava a cada ano com as mudanças globais, por que demoramos tanto para diversificar de verdade e reduzir essa dependência quase doentia da água? Por que a solução para a falta de chuva ainda é queimar combustíveis fósseis, como se estivéssemos nos anos 70?
Segundo, há o custo socioambiental que nunca aparece na conta, mas que todos nós pagamos. A construção de mega-represas como Belo Monte deixou cicatrizes profundas no meio ambiente e em comunidades inteiras, deslocando pessoas e alterando ecossistemas de forma irreversível. Vendemos ao mundo a imagem de uma energia limpa, mas raramente discutimos o altíssimo preço pago para gerá-la. É uma limpeza que, vista de perto, tem muitas manchas.
E isso sem mencionar o caso de Mariana, nas Minas Gerais, que não precisa se repetir para deixar a todos nós, no mínimo, devidamente envergonhados.
O Sol e o Vento: O Futuro Brilhante que Demora a Chegar
Se a dependência hídrica é o nosso passado problemático, a energia solar e a eólica são nosso futuro luminoso. E que futuro! O Brasil é um continente banhado por sol o ano inteiro e com ventos constantes em vastas áreas do litoral e do sertão. O potencial é tão óbvio que beira o absurdo não sermos líderes mundiais absolutos nessas áreas. E, de fato, temos avançado. Vemos cada vez mais parques eólicos no Nordeste e fazendas solares se espalhando.
Mas a velocidade desse avanço é frustrante. O inconformismo, aqui, vem da lentidão e das barreiras. Por que, em um país com tanto sol, instalar painéis solares no telhado de casa ainda é um processo burocrático e financeiramente desafiador para a maioria da população? Ouvimos falar de debates intermináveis sobre a "taxação do sol", um termo que, para o leigo, soa como uma piada de mau gosto. “Querem me cobrar por usar a luz do sol para gerar minha própria energia?” A explicação técnica por trás (o uso da infraestrutura de distribuição) pode até fazer algum sentido para engenheiros, mas para o consumidor, a mensagem que fica é: "o sistema não quer que você seja independente".
Sentimos que há uma resistência em democratizar o acesso à energia. O modelo atual é centralizado: grandes usinas geram, grandes linhas transmitem, e nós, na ponta, apenas consumimos e pagamos. A energia solar distribuída – grupos organizados gerando sua própria energia, de forma limpa, ordenada e eficiente – quebra essa lógica. Ela nos empodera, alivia a pressão sobre o sistema e reduz a necessidade de construir mais mega-projetos. Mas, em vez de um programa nacional massivo de incentivo, com financiamento facilitado e burocracia zero, o que vemos são avanços tímidos e uma constante insegurança jurídica.
O mesmo vale para a energia eólica. Celebramos os recordes de geração, mas sabemos que poderíamos ir muito além. Projetos de parques eólicos offshore (no mar), que possuem um potencial gigantesco, ainda engatinham no licenciamento. A sensação é de que estamos usando apenas uma fração minúscula do nosso verdadeiro poder.
Um Sistema Ineficiente e uma Conta Impagável
No fim, somos inconformados com o boleto! Aquele pedaço de papel (ou arquivo digital) que chega todo mês é a materialização de todo o nosso inconformismo. Olhar para ele é um exercício de frustração. Uma parte significativa do valor não é a energia que consumimos. É um emaranhado de impostos (ICMS, PIS, COFINS), taxas, bandeiras e encargos setoriais. Pagamos pela energia, pagamos pelos impostos sobre a energia, pagamos pelo "seguro" contra a falta de chuva e pagamos por uma série de subsídios e programas que mal sei o que significam. A transparência é zero.
Pior ainda é saber que parte da energia pela qual pagamos sequer chega à nossa tomada. As perdas na transmissão e distribuição no Brasil são notórias. A imagem que nos vem à cabeça é a de um sistema de irrigação cheio de furos. Enchemos o sistema de água (energia) em uma ponta, mas uma parte significativa vaza pelo caminho antes de chegar à plantação (nossas casas). E quem cobre o custo dessa água desperdiçada? Novamente, o consumidor final. Pagamos por uma infraestrutura que precisa urgentemente de modernização, mas que parece avançar a passos de tartaruga.
Essa complexidade e ineficiência criam uma falta de concorrência. Na prática, somos clientes cativos de uma única distribuidora em nossa região. Não se pode, como é feito com nossa conta de telefone ou internet, pesquisar um fornecedor de energia mais barato ou com um serviço melhor. Essa ausência de mercado livre para a grande parcela dos consumidores finais nos deixa à mercê de um monopólio regulado, sem poder de barganha e sem alternativas.
A Matriz Energética Completa: O Elefante na Sala
Até aqui, falamos do nosso inconformismo a partir da matriz elétrica, que é onde reside nossa fama de "limpa". Mas se olharmos para a matriz energética total – que inclui tudo o que gera energia no país, principalmente os transportes –, o cenário muda drasticamente. Aí, somos dominados pelos combustíveis fósseis. Nossas cidades são movidas a gasolina e diesel. Nossa logística depende de caminhões que queimam diesel em estradas precárias.
O inconformismo se amplia. De que adianta ter uma matriz elétrica relativamente limpa se nossa vida diária e nossa economia são viciadas em petróleo? A eletrificação da frota de veículos, por exemplo, é uma pauta que avança a passos lentos por aqui. Carros elétricos ainda são artigos de luxo e a infraestrutura de recarga é quase inexistente fora dos grandes centros. Mais uma vez, o potencial está lá: poderíamos carregar nossos carros com a energia "limpa" do sol, do vento e da água. Mas a transição não acontece na velocidade que deveria.
Parece haver uma falta de visão integrada. Discutimos a eletricidade de forma isolada, sem conectá-la aos desafios do transporte, da indústria e do agronegócio. O resultado é uma política energética esquizofrênica: verde no discurso elétrico, cinza na prática do dia a dia.
Conclusão: O Inconformismo como Motor da Mudança
O que a NewSun te convida a fazer é transformar nosso inconformismo, no fim das contas, em um grito por coerência. Usar a nossa frustração, como cidadãos que vêem um potencial extraordinário sendo subutilizado por falta de planejamento, por excesso de burocracia, por interesses arraigados e por uma visão de curto prazo.
A NewSun te convida a participar da ideia de que, em um país ensolarado e com ventos fortes, não é preciso torcer para chover para que conta de luz não exploda. Por isso a NewSun não se conforma com o fato de que gerar nossa própria energia limpa seja um desafio e não um direito incentivado. E a NewSun se revolta por pagar por um sistema caro, complexo e ineficiente, que perde energia no caminho e deixa a todos nós sem opções.
Queremos uma matriz energética que seja limpa não apenas na propaganda, mas na prática. Que seja resiliente e não nos deixe reféns do clima. Que seja democrática e permita que cada cidadão seja também um gerador de energia. Que seja inteligente e eficiente, sem desperdiçar os recursos que a natureza nos deu de bandeja. E, acima de tudo, que seja acessível, com um preço justo que reflita nossa riqueza de recursos e não uma suposta escassez.
O Brasil tem o mapa da mina. O que nos falta, e o que nosso inconformismo cobra, é a coragem e a competência para escavá-la de verdade, trazendo seus benefícios para a luz do dia e para o bolso de todos os brasileiros. Até lá, continuaremos olhando para nossas contas de luz e nos perguntando: por quê?
A NewSun te convida a entender um pouco mais sobre a geração e o uso da energia elétrica no Brasil.
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